Nos passados dias 5 a 9 deste mês, as Equipas de Jovens de Nossa Senhora juntaram-se novamente para a habitual peregrinação ao Santuário de Fátima. O desafio mostrou-se acrescido como já não o era desde há algum tempo. Os peregrinos que começaram a jornada logo dia 5 foram convidados a partir do Parque das Nações, em Lisboa, rumo à Cova da Iria, enquanto o resto da comitiva só se juntou ao pelotão inicial sexta-feira.

Durante estes 5 dias tivemos a oportunidade de meditar e rezar as palavras de São Paulo aos Romanos, o que nos permitiu repensar acerca da nossa história com Deus neste início de regresso às rotinas. Nesta carta, São Paulo interpela os cristãos acerca da sua vocação de filhos de Deus, sobre a liberdade que o Espírito nos concede, os medos que muitas vezes nos prendem, sobre a verdadeira Herança que vem de Deus e sobre a forma como através do sofrimento, com e por Cristo, podemos tomar parte da Sua glória.
Embora conhecido o mote que daria nome à peregrinação logo desde o primeiro dia – “Somo-lo, de facto!”, a verdade é que todos juntos fomos decifrando, com o passar dos dias, o que São Paulo quis transmitir aos povos cristãos, seus contemporâneos.
Inspirados pelo Espírito, fizemo-nos à estrada e percorremos os belos caminhos do Tejo acompanhados pelas suas margens e terras adjacentes, que foram palco de momentos e conversas marcantes vividas em movimento.

Como referi, a peregrinação começou com apenas 30 peregrinos. O grupo inicial teve a possibilidade de viver os primeiros dias da peregrinação de forma mais íntima. As 30 caras rapidamente tornaram-se conhecidas, amigas. Abundava um ambiente de grande partilha e grande cumplicidade, obviamente muito devido também aos momentos de oração que se foram sucedendo e que foram pautando o início do caminho de um grande sentido e propósito.
É inegável a ajuda que os Pe. Miguel e Bernardo tiveram neste arranque de caminho tão esperado, naturalmente confirmada, mais tarde, pela presença do Pe. Francisco!
A meio dos três primeiros dias, tivemos a sorte de poder ouvir um testemunho diferente. Na primeira pessoa e através da sua experiência de vida, a tia Rita Vinagre transmitiu-nos que não devemos temer aquilo que são os projetos de Deus para cada um. Que uma vida baseada nos medos nos prende, restringe, impossibilita-nos de vivermos uma vida plenamente alegre. Foi-nos, portanto, proposto que entregássemos os nossos medos a Deus, com a certeza de que só Ele, aliado a Maria, é capaz de nos sanar.
Ao mesmo tempo que as relações se iam estreitando dentro do grupo dos 30 equipistas, crescia também em nós o desejo que chegasse sexta-feira. Um dia que traria novidade! Um dia em que chegariam mais caras conhecidas e, naturalmente, por conhecer!

Juntando-se a este facto, a ânsia pela chegada do dia 7 tomou ainda maiores proporções, dado que também chegariam 53 irmãos de península, oriundos de Madrid, Sevilha, Villarta de San Juan e Valência.
Inevitavelmente o fim do dia de sexta-feira chegou. Depois de percorridos os quilómetros que distam a terra da Marmeleira à de Abrã, de aprofundado e rezado o “mistério mais profundo da vocação cristã” (São João Paulo II) – a filiação divina – a Associação Cultural Recreativa de Abrã foi inundada por todos os equipistas que faltavam para perfazer os cerca de 175 equipistas que domingo chegariam a Fátima.
Pousadas as malas, colchonetes, marmitas, dados os primeiros cumprimentos e finita a ânsia da espera pelos demais peregrinos, instalou-se no salão da Associação um momento único. Num instante, tanto equipistas portugueses como espanhóis, juntaram-se para partilhar um momento cultural baseado na dança e na música. Não foi preciso mais que uma guitarra e jovens com vontade de conviver para que se ouvisse e dançasse las Sevillanas.
Este momento marcou-me especialmente. Nunca tinha feito uma peregrinação com as EJNS. Não conhecia o dinamismo, a prontidão e a alegria que transbordaram daquele “segundo início” da peregrinação, pelos vistos, tão característicos deste movimento que são as Equipas.

O fim do dia de sexta foi também marcado pela noite de Adoração, momento que rematou o dia. Todos juntos pudemos contemplar o Santíssimo e entregar-Lhe o resto dos dias da peregrinação que viriam pela frente. Este momento permitiu a uns fazer um ponto de situação do caminho já percorrido e aos restantes calibrar expectativas, centrar no essencial, focar no interior.
O dia seguinte começou com a celebração da Eucaristia. Impelidos mais uma vez pelo Espírito, continuámos a romaria, cada vez mais próximos do destino.
O grupo inicial confrontou-se, logicamente, com um novo paradigma: o facto de ter novas caras, novas histórias, novas realidades com as quais teria de fazer caminho.
Os dias foram-se desenrolando. Com o passar do tempo, ainda que pouco, conseguimos todos ir à procura do Outro. Conhecê-lo melhor. Recordo com muita alegria a forma como a peregrinação como um todo procurou estabelecer uma grande amizade entre si. Como é de esperar, as conversas que ao início abordavam meras trivialidades conseguiram escalar no sentido de procurar estabelecer uma grande profundidade. E que grande profundidade se viveu nesta peregrinação!

É curioso enfatizar também a forma interessada, atenta e paciente como cada equipista – português ou espanhol, alfacinha ou escalabitano, alentejano ou portuense – procurou conhecer e entender as diferenças das diferentes realidades que foi conhecendo ao longo da peregrinação.
É importante também mencionar a maneira como as várias paragens de temas ao longo dos vários dias foram sendo vividas com a chegada dos restantes peregrinos. As recentes aquisições contribuíram para o aumento do tamanho do sentido dos momentos de oração. Não me refiro apenas ao facto óbvio de a mancha das EJNS ser maior, mas também ao facto como o restante grupo soube contribuir para estes momentos com seriedade e interesse. Por exemplo, o então habitual silêncio vivido em oração em grupo, propício à oração e ao encontro com Deus, tornou-se ainda mais ensurdecedor – sem dúvida, mais favorável ao encontro com Deus no interior de cada um.
Convém referir o fator espírito de comunidade partilhado por todo o grupo. Ganha-se, se a fé que todos professamos for partilhada e vivida entre todos!

A chegada a Fátima foi o desfecho do encontro realizado desde há cinco dias para uns ou dois para outros. Mas acredito que o verdadeiro caminho apenas ganhou força, sentido, direção na passagem das Equipas por Fátima. O caminho que começámos dia 5 de outubro continua a ser trilhado por todos os equipistas que se juntaram naqueles dias! Que se juntaram porque são de Cristo! Partimos, passámos por Fátima, regressámos às nossas casas, às nossas rotinas, certamente inflamados pelo Amor de Deus, com a convicção bem vincada nos nossos corações de que “SOMO-LO, DE FACTO!”