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Diogo Maria Rodrigues Pinto Carvalho

O Diogo Maria é equipista de Lisboa, da L 274. É seminarista e está no último ano do curso de Teologia a fazer uma tese sobre Santo António de Lisboa. Provavelmente é o único equipista que já ficou doente de cama em dois Encontros Internacionais, no Brasil e em Roma.

“Este é um tempo de Graça”

Há duas semanas fui a um concerto de uns amigos no Santuário de Schoenstatt em Lisboa. Este concerto tinha uma grande diferença de todos os outros, pois este era feito para rezar. À medida que íamos ouvindo as músicas cantadas por estes dois padres, dois seminaristas e um grande coro, íamos mergulhando neste grande mistério que é o Nosso Deus.

Mas houve uma música que me despertou especial atenção. Tinha sido composta pelo Bernardo, um dos seminaristas que estava a cantar, e tinha um refrão onde se repetia várias vezes a frase, “Este é um tempo de graça”, e desde aí, estas palavras têm estado na minha cabeça.

A música começa por dizer, “Vem para todos um novo tempo, fomos chamados a viver a pleno”. Mas como podemos nós falar disto a pessoas que vivem no meio de desafios, lutas e contrariedades da vida? Como se anuncia um tempo de graça a quem vive num tempo de tristeza?  

Ora antes de ser cantada, o Bernardo explicou-nos um pouco da música, dizendo-nos que a música não descreve o tempo do Cronos, mas sim, o tempo do Kairós.

Cronos e Kairós são duas palavras gregas que falam de tempo.  O tempo do Cronos é o tempo da sucessão dos meses, dos dias, das semanas e das horas. Por outras palavras podemos dizer que é o tempo do relógio.  Já o tempo do Kairós é um tempo diferente. O tempo que não é limitado e fechado, mas o tempo que transborda o próprio relógio. O tempo que dura mais do que os anos, é maior do que os meses, e mais abundante que os dias. Assim este é o tempo do ser levantado, tocado, curado e transformado! O tempo do acordar do sono, como dizia São Paulo, “Sabeis em que tempo vivemos: já é hora de acordardes do sono, pois a salvação está agora mais perto de nós do que quando começámos a acreditar.” (Rom 13, 11)

Cronos e Kairós caminham juntos, pois o Tempo do Kairós dá sentido ao tempo do Tempo do Cronos. A vida em Deus por mais que aconteça no tempo de vida cronológico de cada um, é um tempo de Kairós. Kairós é abundância de que Jesus fala em João 10,10: «Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância»”. É sem dúvida um grande desafio: Viver com abundância o tempo de vida que nos é dado a viver.

As Jornadas Mundiais da Juventude, como temos ouvido falar até aqui, vai ser o maior evento de sempre em Portugal. Em muitos anos de fé Católica, será seguramente a Missa com mais pessoas, já celebrada no nosso país. Mas até lá, ainda temos para percorrer juntos um longo caminho de trabalho! Muitas decisões para tomar, muitas montagens e trabalhos para fazer e muita vida ainda para viver. Mas no tempo que falta a ânsia bate-nos à porta. O dia 1 de agosto permanece lá ao fundo, bastante distante. E hoje só nos é dado a ver uma sucessão de dias, de semanas e de muitas esperas, à nossa frente.   

Mas como podemos nós, viver já hoje este Tempo de explosão do Kairos que vai acontecer no dia 1 de agosto? Claro que uso o exemplo das Jornadas, mas poderia usar muitos outros exemplos da nossa vida. Por isso voltemos à frase de Jesus,

“Eu vim para que tenham vida e a vida em abundância” (Jo 10, 10).

O Tempo do Kairós, como já dissemos, é o Tempo da Abundância. O Tempo de Cristo olhar para ti, para te dizer ao ouvido, “Eu quero-te”! Não sendo necessário teres tudo perfeito na vida para que o tempo do Kairós possa acontecer de uma forma abundante. “Quando tiver aquilo, serei feliz; quando conseguir isto, vou ficar pleno; quando isto se resolver, a abundância aparece; quando aquilo terminar, aí sim… aí é que vai ser!”. Esta nossa maneira de pensar evidencia mais um Tempo Cronos esquecendo a grande alegria que é o Tempo do Kairós.

Mas quem é que nos disse que precisávamos de ter tudo perfeito na vida para vivermos com alegria? O Tempo do Kairós, é o tempo da alegria em Deus. Não o tempo de ceder ao pecado, porque isso nunca é o caminho, mas é o tempo de me deixar ser resgatado por Deus.

É O Tempo da oficina, onde as obras de arte ainda não estão acabadas, mas vão sendo modeladas pelo criador. O Tempo do escritório, onde o plano de Deus vai sendo posto em prática. O Tempo do hospital, onde a operação vai acontecendo. O Tempo da horta, onde os legumes vão crescendo. O Tempo da tua vida, onde Cristo te vai amando e curando, no meio das tuas imperfeições.

É uma grande aventura confiar em Deus? Sim é! Mas é a maior aventura que podemos ter na vida. Muito mais do que escalar uma montanha ou de saltar de um para-quedas.

“A vida para ti começa hoje”.

Mas como posso viver assim no meio destas lutas da vida?

Vamos a uma história. Há 2000 anos, numa importante cidade da Palestina, estavam uns homens fechados numa casa, cheios de medo de serem descobertos pelos Judeus (homens que perseguiam aqueles que se convertiam ao Cristianismo). Mas eis que no meio deste grande medo, um Pentecostes aconteceu. E estes homens que estavam fechados em casa, tornaram-se nos homens enviados aos quatros cantos do mundo para falarem sobre Jesus Cristo. As suas vidas não foram fáceis, não foram envolvidos numa perfeição de Disney e deram de caras com um caminho bastante desafiante. Se deixaram de ter medo? Creio que não. Mas através das suas fragilidades, Deus pôde começar uma história nova em muitos corações. Os homens eram convertidos, curados e levantados e faziam-se novos discípulos. E o mais impressionante disto, é que o medo que pudessem sentir, não os levava a ficarem estáticos, mas antes pelo contrário, só os lançava mais longe e com mais força no caminho que faziam.

É uma história bonita! Mas poderia esta história, ser a minha também?  

Pode! Foi para isso que foste criado. Para viver no tempo do Kairós de uma forma plena e abundante. Sem idealismos de perfeição, mas agarrando com esperança, coragem e alegria, a realidade que é oferecida.

«Tudo posso naquel’E que me fortalece» (Fil 4,13); «Deus nãos nos deu um espírito de timidez, mas força de amor e de poder» (2 Tim 1, 7); «Por isso me alegro nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias, por Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte» (2 Cor 12,10); «Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação, perseverantes na oração» (Rom 12, 12); «Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens, e o que é tido como fraqueza de Deus, é mais forte do que os homens» (1 Cor 1, 25);

O mais bonito, é que esta é a nossa história! Tens sofrimentos? Esta é a tua história! Tens fragilidades? Esta é a tua história! Tens feridas? Esta é a tua história!

Fomos chamados a viver o tempo em pleno. Não dominados pelo Tempo do Cronos sem sentido. Mas vivendo no Tempo do Cronos, com a abundância do Tempo do Kairós.

Vivendo a vida, não dominados por sofrimentos, perfeiçoes mal conseguidas, inércias, apegos e pecado, mas envolvidos pela graça que transborda. Por isso, vamos deixar-nos de coisinhas, de fechamentos e inércias e vamos agarrar o que está à nossa frente! Ser Santo é isto!

Se estás na organização das Jornadas Mundiais da Juventude, ou ainda estás na dúvida se deves ajudar ou não, Vai! Deus precisa das tuas mãos! Se és voluntário, ou ainda estás na dúvida se deves ser ou não, Vai! Deus precisa da tua vida! Se és família de acolhimento, ou ainda estás na dúvida se deves ser ou não, Vai! Deus precisa da tua casa! Se estás inscrito, ou se ainda estás na dúvida em participar, Vai! Não imaginas o que Deus tem planeado para ti!

E…

Se atravessas um tempo de tribulação, Confia! Deus está contigo! Se carregas uma dor, Confia! Deus está a cuidar de ti! Se duvidas da sua existência, Confia! Porque Deus quer habitar em ti!

Não esperes pelos dias 1 de agosto da vida, mas começa hoje! Foste chamado para viver a vida em pleno. Porque hoje, para ti, é um tempo de graça. Faz da tua vida e das vidas daqueles que te rodeiam, tempos de graça!

Por isso, canta com o Bernardo,

“O céu será vossa casa, os pobres terão vida nova, os cegos verão claramente, os mudos a poder falar, os surdos ouvindo, os coxos a caminhar, os presos por fim libertados, verão os oprimidos, por fim consolados. Este é um tempo de graça, cresce a alma, surge a fé, impulso de esperança, veio o Senhor. Este é um tempo de graça!”

Vamos! Este tempo está à tua espera!

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