A Quaresma já vai avançada e a celebração de mais uma Páscoa aproxima-se «a todo o vapor», a hora está próxima.
Em poucos dias, Jesus estará às portas de Jerusalém para aí entrar e celebrar com os seus discípulos – connosco – a sua Páscoa. O desejo da nossa companhia é claro. Sentado à mesa com os discípulos, para comer a Ceia Pascal, confirma-nos isso mesmo quando lhes diz «desejei ardentemente comer esta Páscoa convosco». O desejo do Senhor Jesus era tanto para com os discípulos de então, como para connosco hoje.
Contudo, em cada Páscoa, como sempre na vida cristã, porque com Deus é sempre assim, o grande respeito que tem pela nossa liberdade, coloca-nos no risco de passar completamente «ao lado» desta hora, quer por indiferença, cansaço, medo ou dispersão.
Este risco é claro. No horto, quando tinha pedido a Pedro, Tiago e João que vigiassem, por três vezes os encontrou a dormir. Se calhar muitos daqueles que o receberam triunfalmente em Jerusalém, foram depois quem no pretório pedia a sua morte. Pedro, que tinha prometido ao Senhor que daria a vida por Ele, nega-o três vezes na noite da sua prisão. Os apóstolos começaram sentados com Ele à mesa para a Ceia, mas junto à cruz, daqueles que O seguiam, estavam apenas «a sua Mãe, a irmã da sua Mãe, Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena» e o discípulo amado.
Muitos foram aqueles que O seguiram, ouviram falar e contemplaram os seus milagres, mas porque ainda não estavam «firmes na fé» naquele que seguiam, retraíram-se e não O acompanharam naquela hora.
A hora está próxima e muito pode ser aquilo que nos separa de a viver com Jesus. Urge, no meio da cidade, das tarefas do dia-a-dia, no trabalho ou no estudo, entre família, amigos e colegas, enraizarmos a nossa vida em Jesus. Só «firmes na fé» de que Ele é o Senhor das nossas vidas, o nosso salvador, e que em tudo busca a vontade do Pai, é que podemos viver a Sua hora com Ele. Tal firmeza só se vive alimentada pela oração, despojada pelo jejum e concretizada na esmola. Só se vive com aquelas boas obras que «edificam o edifício» da nossa vida em Cristo, e renunciado àquelas que edificam a vida na areia, que logo o vento leva.
A hora está próxima e o Senhor permite-nos uma vez mais vivê-la com Ele. Permite-o porque quer que a nossa vida se conforme cada vez mais com a sua hora, com a cruz. Mesmo que antes não o tenhamos vivido enraizados n’Ele, podemos sempre recomeçar, porque a sua salvação misericordiosa na cruz nos precede sempre. Foi isso que permitiu a Pedro, depois de O ter negado, afirmar por três vezes a sua amizade e amor pelo Senhor, e ser constituído como a rocha sobre a qual assentaria a sua Igreja.
A hora da cruz está próxima e está ainda ao nosso alcance vivê-la com o Senhor. O seu chamamento é claro: «Se alguém quiser seguir-Me, tome a sua cruz, renuncie a si mesmo, e siga-Me». Que Maria, nossa Mãe do Céu, que diante da dor e morte do seu Filho se manteve firme na fé e o acompanhou até à cruz, interceda por nós e nos ajude a viver como verdadeiros discípulos, «firmes na fé, até à hora da cruz, este tempo favorável.