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Sexta-feira depois das Cinzas

24 de Fevereiro

O jejum

Nestes dias que introduzem a Quaresma, queremos também falar sobre Jejum, como tínhamos prometido ontem. Voltamos a ouvir Jesus:

Quando jejuardes, não mostreis um ar sombrio, como os hipócritas, que desfiguram o rosto para que os outros vejam que eles jejuam. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa.
Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que o teu jejum não seja conhecido dos homens, mas apenas do teu Pai que está presente no oculto; e o teu Pai, que vê no oculto, há-de recompensar-te.

Mateus 6, 16-18

O jejum é um exercício quase patético, e muitas vezes não o percebemos bem. No entanto, é um exercício que nos ajuda verdadeiramente, porque nos recorda que, quando renunciamos à comida – e a comida é a coisa mais básica – nos apercebemos de que só Deus é absoluto, só Deus é que nos dá vida. Torna-se tudo mais claro: precisamente porque para além dos alimentos, Deus dá-me vida, então eu posso renunciar aos alimentos. É claro que não vou passar fome durante quarenta dias seguidos; mas este exercício à sexta-feira lembra-me que a vida não vem dos alimentos, não vem das coisas do mundo, vem de Deus. E porque é que vem de Deus? Porque na Sexta-feira Santa, Cristo fez morrer o mundo do pecado para que eu tivesse vida, fez morrer na sua carne o mundo do pecado para que eu tivesse a vida d’Ele.

Com efeito, só quando jejuo é que deixo vir ao de cima a fome mais profunda, que é a fome de Deus, isto é, a necessidade elementar do abraço de Deus, tantas vezes escondida e quase esquecida nos anseios mais íntimos do coração humano.

Por isso, o jejum está ligado à Esperança. A Esperança é aquela convicção profunda de que vale a pena ir por aqui, vale a pena construir o Reino e dedicar a minha vida a criar espaços novos para Jesus. Esvaziar-me por meio do jejum cria, em primeiro lugar, um espaço novo para Deus em mim. E isso é o primeiro passo para que possamos ser portadores de esperança, isto é, alguém que tem o ânimo necessário para ser santo.

O jejum é também um lugar de pobreza. Não é preciso grandes explicações para isto, é mais ou menos óbvio; mas faz sentido trazer à conversa a questão da sede. É um sentimento que todos já experimentámos, e tem que ver com o reconhecimento de que me falta alguma coisa, que estou como terra árida, sequiosa, sem água. O jejum é então um exercício de pobreza que me leva a saber que preciso de Deus para que me deixem de faltar coisas. O pobre é aquele que sabe que não se basta a si mesmo, sabe que tem uma carência fundamental, e por isso pede. E pedir é louvar.

A proposta que temos é que, nesta Quaresma, além do jejum que a Igreja propõe – evitar a carne às sextas-feiras – possas fazer sobretudo jejum de palavras. Passa tempo em silêncio, procura oportunidades para isso, visita uma Igreja, um jardim ou um lugar onde possas estar sozinho. Hoje, cala-te: não leves a mal a crueza da expressão. Dá espaço a Deus para ser Ele a falar.