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Sábado depois das Cinzas

24 de Fevereiro

A oração

Hoje, de uma forma muito simples, queremos falar-te de oração. Voltamos a ouvir Jesus:

Quando rezardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar de pé nas sinagogas e nos cantos das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando orares, entra no quarto mais secreto e, fechada a porta, reza em segredo a teu Pai, pois Ele, que vê o oculto, há-de recompensar-te.

Mateus 6, 5-6

A oração é a intimidade com Deus. E a oração cristã é em primeiro lugar a oração de Cristo, que eu reproduzo. Por isso, é bom olharmos para os momentos em que Jesus reza, porque o que Ele quer da nossa oração é introduzir-nos dentro daquela relação íntima que Ele tem com o Pai.

Do mesmo modo, é bom recordar que a oração é um diálogo; um diálogo que tem um interlocutor específico, que é o Pai eterno, o Pai de Jesus. A oração não é um estado de meditação, de desenvolvimento intelectual, ou porventura até, emocional. A oração é um diálogo, e um diálogo supõe que do lado de lá, no outro lado do caminho que as palavras, os sentimentos e os desejos estabelecem está um Alguém, um Alguém vivo que escuta, sente e pensa, responde e interfere. É um Alguém que não é indiferente, nem ausente à minha oração. Pode não ser concordante, pode não estar no mesmo comprimento de onda, mas não é nem ausente, nem indiferente à minha oração. Não é nem ausente, nem indiferente à minha situação. Não é nem ausente, nem indiferente em relação à minha consciência d’Ele e à minha consicência da mim mesmo.

Na oração, com efeito, estou diante de Alguém livre. Ele é o Pai de Jesus, e esse Pai é mesmo Pai: é a fonte da vida, e tem uma vontade concreta – a mesma vontade que manifestou a Jesus. O Pai não é um inerte, nem sequer é alguém que se possa convencer com persuasões humanas: Ele tem uma vontade e uma vontade indestrutível, tem uma bondade infinita, capaz de absorver tudo o que eu sou, peço, sinto e preciso. Ele é um Pai de misericórdia capaz de escutar o mais destroçado e pecador dos seus filhos. Por isso, Ele parte para a oração – para o tal diálogo comigo – reconhecendo-me, reparando em mim e disponibilizando para mim o amor pessoal que me tem.

O ambiente próprio da oração, deste diálogo com o Pai, é a confiança, exactamente como vemos em Jesus e, de uma maneira muito bela, em Nossa Senhora. É a confiança que permite a liberdade para debater com Deus, porque se não houvesse confiança o debate era combate e eu precisaria de montar uma estratégia para vencer. Na oração verdadeira, o debate serve para esclarecer, aproximar, unir e avançar.

É, de facto, a confiança que traz liberdade para a oração, é a confiança que permite verdade na oração. Sem a confiança muitas zonas minhas ficam opacas, e também muitas zonas de Deus ficam escondidas – não porque Ele não as queira mostrar, mas porque eu não me quero aventurar nessa profundidade e nessa intimidade. Com Deus, a confiança não é a sensação de que “vai correr tudo bem”, é a certeza de que estou bem entregue, doa o que doer, aconteça o que acontecer, venha do Pai a resposta que vier.

Por fim, falta dizer: a fé pede-me obediência. Obedeces a Jesus?